Tornou-se
proverbial a cena do Tomé incrédulo, que dizia: “Se eu não vir em suas mãos o
lugar dos cravos e minha mão no seu lado, não acreditarei”. Em outras ocasiões,
durante a vida pública do Mestre, os Apóstolos tinham sentido nele a
proximidade de Deus, presença que os abalou profundamente. Assim após a pesca
milagrosa, Pedro cai de joelhos aos seus pés e lhe dá o título de Kyrios,
Senhor, designação divina, que substituía o nome sacrossanto de Deus. O mesmo
acontece na tarde daquele “dia, o primeiro da semana”, quando estavam os
Apóstolos reunidos em Jerusalém. Talvez no cenáculo, com as portas bem fechadas
por medo ainda das perseguições. De repente, ouvem uma voz que eles bem
conheciam: “A paz esteja convosco”. É o Senhor! Ele lá estava, uma vez mais, no
meio deles, estando presente Tomé.
Voltando-se
para Tomé, o Mestre lhe diz: “Põe o teu dedo aqui e vê minhas mãos! Estende a
tua mão e põe-na no meu lado e não sejas incrédulo, mas acredita”.
Tais
palavras não querem, no entanto, significar que Tomé tenha sido menos fiel e
menos ligado a Jesus que os demais Apóstolos. Ao contrário, quando subiam a
Jerusalém, ele não hesitou em querer seguir Cristo até à morte. Com veemência,
ele exclamou: “Vamos também nós, para morrermos com Ele! ” (Jo 11,16). Se ele
não crê, de imediato, não é porque não deseja. Basta notar sua reação
instantânea, tão logo ele se reencontre com o seu “Senhor”. Prostrando-se, ele
profere uma das belas profissões de fé do Novo Testamento: “Meu Senhor e meu
Deus! ” Comenta S. Agostinho: “Tomé via e tocava o homem, mas confessava a sua
fé em Deus, a quem não via nem tocava. Mas o que via e tocava o induzia a crer
no que até agora havia duvidado”
.
Restabelece-se
a prioridade do crer sobre o ver. Inicialmente, Jesus sugere-lhe uma
verificação sensível, para após dizer, fortalecendo a sua fé: “Não sejas
incrédulo, mas acredita! ” A seguir, o olhar de Jesus se torna distante,
atravessa os tempos, chega até nós, colocando-se ao alcance de todos os que vão
ao seu encontro com confiança, e então Ele conclui: “porque me viste, creste;
felizes os que crerão sem ter
visto”. Também aos fiéis das gerações ulteriores pertence a bem-aventurança
evangélica, fruto da luz sobrenatural interior.
O fato de
Jesus “vir” revela solicitude, misericórdia pelos Apóstolos ou, melhor, por
todos os seus discípulos. Nós que estamos no tempo dos que não viram e,
contudo, creem, reiteramos a profissão do Apóstolo S. Tomé: “Meu Senhor e meu
Deus! ” Títulos divinos que expressam a superioridade do crer sobre o ver, pois
mais do que pela sua face, reconhecemos Jesus pelas suas chagas, isto é, pelo
seu amor misericordioso para conosco.
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